terça-feira, 13 de abril de 2010

Casamento no Interior

Ir a um casamento pode ser algo chato, pois as vezes você mal conhece os noivos ou é alguém da família que você só viu umas três vezes na vida. Mas, neste fim de semana, fui no casamento de minha queridíssima amiga Renata, companheira de faculdade e TCC.

O casamento foi na cidade de São José do Rio Pardo, que até então, eu nunca tinha ouvido falar. Por isto, resolvi ir de carona com um amigo, o Denis e sua futura esposa, Verônica. Como ele mora longe de casa e próximo a saída para a Marginal, combinamos de nos encontrar no metrô Bresser. Sábado de manhã arrumei minhas coisas, peguei o meu terno e fui para o local combinado. Foi interessante esta ida do Paraíso ao Bresser, pois a linha vermelha do metrô é algo no mínimo exótico. Primeiro que o trem vai por cima e não por baixo, pela janela você vê trilhos de trem, prédios antigos, muitos galpões, ambulantes, ambulantes, mais ambulantes. E dentro do trem você vê mais ambulantes...tinha gente vendendo até colchão.

Cheguei no local combinado, onde encontrei a Camila, outra amiga que pegaria carona. Tomamos um café no boteco enquanto o Denis não chegava, ao lado de pessoas que já tomavam cerveja e pinga com limão as 10h30 da manhã. O Denis chegou, legal, guardamos as nossas coisas no porta-malas, entramos e fomos em direção a Marginal, onde pegaríamos a Paty, outra carona do Denis. Encostamos em um Carrefour, pegamos a Paty, descemos para comprar água, fazer um xixi, enquanto a Verônica comprava o seu coquetel de remédios.

Agora sim, estávamos prontos para viajar rumo a São José do Rio Pardo. A viagem foi tranqüila, pouco trânsito. Paramos para almoçar no meio do caminho, onde comemos um belo prato comercial, daqueles de pedreiro, com direito a repolho, calabresa, carne assada, arroz colorido, e alface e tomate, onde o garçom deve ter cuspido muito, depois que a Camila encheu o saco para comer uma “saladinha”. Comemos, eu quase perdi um dente com uma pedra que tinha dentro da lingüiça, voltamos para o carro e seguimos viagem. O Denis estava com o carro de seu pai, por isto, todo cuidado era pouco. Não que ele tenha sido cuidadoso, afinal, ele dirigia a 170km/h e mantinha uma distância de 10 cm para o carro da frente....super seguro. Chegamos na cidade, fomos deixar a Camila e a Paty na pousada onde elas haviam feito reservas. Chegando lá, ao entrar no estacionamento, o nosso querido motorista dá uma bela ralada na lateral do carro. Entre desculpas como “Tinha um ferro ali no chão” e “Não foi culpa minha”, entramos na pousada, deixamos as meninas, e seguimos para o nosso hotel, onde o Denis quase ralou o carro de novo. Fizemos check-in e subimos ao quarto. O rapaz da recepção, que era o mesmo que guardava o carro, levava a comida no quarto, fazia o café e carregava as malas, nos disse que aquele hotel era onde os artistas do rodeio ficavam quando vinham à cidade. Ok, o local era uma pensão. A TV só tinha 4 canais, o ar-condicionado parecia de filme de terror, a torneira do banheiro parecia uma mangueira de bombeiro tamanha pressão da água, o chuveiro era daqueles que a água cai quente, mas com alguns pingos gelados no meio. Bom, até aí sem problemas, só íamos dormir lá, então ok.

Descansamos a tarde, depois encontramos a Marina para comer um pastelzinho. Conversamos, acertamos tudo para o casamento e fomos ao quarto tomar banho e nos arrumar. O casamento estava programado para começar as 19h30, então marcamos de sair do hotel as 19 horas. Uma van ia levar o pessoal do hotel para a igreja, mas preferimos ir de carro para ter mais liberdade.

Chegamos na igreja, procuramos um lugar legal pra sentar, e acabamos sentando no canto, com uma pilastra na frente e com um cheiro forte de xixi. Ótimo! A cerimônia deu uma atrasadinha básica, até que entra a noiva, ao som de Bon Jovi, emocionante. O que não foi emocionante foi o padre. Olha, os católicos que me perdoem, mas eu queria pegar a minha gravata e enfiar na boca do sujeito, pois não agüentava mais ele falando e falando sem parar. E ainda rolava aquelas trocas de frases sabe, quando o padre diz algo e você tem que responder algo? Acompanhado do Denis, eu apenas movia os meus lábios fingindo que também estava falando/rezando. Depois de algumas horas ouvindo o padre falando, cantando, fazendo piadinhas, rezando, falando, comentando e falando mais um pouco, a cerimônia acabou. Ufa...vamos para a festa!

Entramos no carro Eu, o Denis, a Verônica, a Marina, a Patrícia e a Camila. Não, o Denis não dirigia uma van, era um carro mesmo. Seguimos então para o local da festa, todos empolgados. Ao chegar lá, um local muito bonito e grande. Sentamos em uma mesa e como pobres e favelados, nos revezávamos em buscar pratinhos de quitutes e trazer para todos. Sempre tinha alguém vindo à mesa com um pratinho lotado de salgadinhos: empadinha de queijo, canapés de queijo, enroladinhos de queijo, queijo, doce de queijo, queijadinha...hmmmm! Comi demais, tanto que nem jantei.

Ficamos conversando durante um tempo na mesa, falávamos sobre épocas da faculdade, de pessoas engraçadas como o Nivaldo (colega de classe), sobre o casamento do Denis que vai ser este ano. Até que resolvemos ir à pista de dança, alguns já bêbados, dançando com desconhecidos (Camila), outros descalços (Paty), outro ainda engravatados (Denis), outros com fome (Marina), outros normais (Eu e a Verônica). Entre uma música ou outra, o pessoal ia se soltando, alguns já dançavam mais entusiasmados, enquanto o Denis dançava como se estivesse possuído por demônios. A festa estava muito boa, começaram a distribuir aqueles óculos, anteninhas, orelhas de coelho...tudo estava indo bem, até que a noiva, minha querida amiga Renata, me chama de canto e me diz “Thi, vou te falar uma coisa, mas você promete que não fica bravo?”. Tava na cara que eu ia ficar, mas disse que podia falar, então ela respondeu “Então, tem um amigo meu que está apaixonado por você. Eu queria saber se rola alguma coisa”. Amigos e amigas, imaginem a situação. A minha querida amiga de faculdade, que me acompanhou durante anos e me conhecia bem, perguntando se eu não queria ficar com um amigo dela. Pois é, foi um pouco constrangedor, mas era o dia dela, por isto, respondi com toda a parcimônia possível dizendo que não era a minha praia. A partir daí, fiquei meio apreensivo pensando que talvez eu estivesse fazendo algo que fizesse os outros acharem que eu era gay. Resolvi ficar mais reservado. Sentei num sofázinho e fiquei observando a pista. Observei o Denis dançando axé como se estivesse em um ritual de kadomblé, a Patrícia, pulando e dançando descalça em uma pista repleta de cacos de vidro, a Verônica acompanhando seu noivo nas danças, mas com muito mais delicadeza, e a Camila e a Marina fazendo networking.

Passou um tempo, eu dei uma passeada pela pista, conversei com um pessoal, voltei pra mesa pra comer mais uns quitutes, e quando voltei à pista, percebi a falta de duas pessoas. Quando as procuro no meio da multidão, vejo uma dando um beijo cinematográfico em uma outra pessoa, até então desconhecida, e outra beijando uma pessoa mais famosa, um membro da banda que tocava no casamento. É...tava todo mundo se arranjando. Sentei no meu sofá novamente e vejo Patrícia sentada em uma cadeira, mexendo em seu pé que estava muuuuito sujo e cheio de cacos de vidro. Me aproximei para ver se ela estava bem, e ela totalmente sóbria (mentira) pega o meu dedo e passa em seu pé imuuuundo para que eu sentisse o vidro que estava na sola de seu pé. Estes são os ossos do ofício de um sóbrio no meio de bêbados.

A festa estava acabando, a banda já tinha parado, mesmo porque um de seus mebros estava ocupado com outra coisa (pessoa) agora, a iluminação já havia sido desligada, a pista estava mais vazia, então resolvemos ir embora. Fomos caminhando para o carro, cedi os meus sapatos para a Patrícia, pois os seus pés doíam devido aos cacos de vidro, a Camila caminhava conosco gritando declarações de amor para uma pessoa X, a Verônica puxava o Denis, pois o mesmo estava ainda fazendo amizades com o garçom. A Marina? Cadê a Marina? Ah ta, olha ela ali na frente, acompanhada. A cena era esta, eu caminhando de meia social no chão, a Patrícia com meus sapatos e conversando com o fotógrafo dizendo “Meeeu, esse sapato é muito confortável. Você não tem noção”, o Denis tinha sumido, a Verônica tinha desistido de achar o noivo, a Camila continuava gritando e a Marina resolvia sua noite.

Peguei a chave e saí de carro procurando o Denis. Achei ele! Estava bêbado? Sim! Mas disse que tinha condições de dirigir, e demonstrou isso entrando na contramão, indo na direção errada e fazendo uma curva a toda velocidade pra cima de uma cerca de metal. Eu, no banco de trás, estava bravo com a imprudência do motorista, enquanto Patrícia, Camila e o próprio Denis cantavam “Toda vez que eu chego em casa, a barata da vizinha ta na minha cama” e ouvindo comentários sobre uma pessoa que estava de calcinha bege de vovó, logo, dormiria sozinha. O Denis cruzava todas as ruas, entrava na contra-mão, dirigia rápido demais. Quando chegamos no hotel, depois de dar um sermão no Denis, entrei no meu quarto com o sentimento de felicidade por ter sobrevivido.

Acordamos tarde no outro dia, eu terminava de arrumar as minhas coisas quando batem na minha porta. Era a Marina, a Patrícia e a Camila. Descemos, fiz o check-out, enquanto a Marina e a Camila se despediam e iam embora. Paguei a hospedagem e perguntei para o recepcionista, que também era cozinheiro, se não tinha uma cafezinho pra tomar. Ele disse que o café já havia acabado, retruquei dizendo que eu só queria uma xícara de café, e ele respondeu que o café tinha acabado. Imagino como os artistas do rodeio reagiriam a isto.

O Denis e a Verônica desceram, pagaram as contas e fomos embora. Estávamos morrendo de fome, então paramos para comer logo na saída da cidade. Era um churrascaria. Nos servimos e ficamos esperando a carne. Como uma conspiração, os garçons passavam em todas as mesas, menos na nossa. Já estava ficando nervoso com aquela cambada de caipira, quando vejo um senhor vindo com o queijo à nossa mesa. Tenta imaginar um senhor muito gordo e muito suado trazendo queijo grelhado à mesa, pois foi assim. Eu olhava pro pescoço do homem, que aparentemente era dono do restaurante, e via todo aquele suor, parecia que tinha saído da sauna. Ao mesmo tempo, olhava para aquele queijo pingando em gordura. MEDO! Bom, eu tenho anti-corpos pra comer qualquer coisa, afinal, quem já comeu ovo colorido, pode comer queijo suado. Foi quando o gordão deixa cair metade dos queijos no chão e na mesa. Olho para a minha calça, toda suja de queijo. A mesa tem queijo espalhado por todo lugar. Aaaaahhh...que raiva!. Enquanto a Paty ria de mim, o gordaço recolhia os queijos que tinham caído da mesa e os colocava de volta ao espeto, que em minutos depois ele servia a um otário de outra mesa. Aquele restaurante me fez pegar ódio de caipira. Seja pelo garçom dizendo “Fartou dois garçom hoje” ou pela demora e péssimo atendimento, ou pela menina que passava o cartão que me perguntou “É créto ou déto?”, que em português significa “É crédito ou débito?”. Saímos de lá e continuamos nossa viagem, agora só eu e o Denis estávamos acordados. Enquanto Verônica cohilava no banco da frente e Paty roncava ao meu lado, eu e o Denis discutíamos sobre investimentos e negócios. Elas acordaram, resolvemos parar para tomar um cafezinho, acabamos comendo bombas de chocolate, tortinhas, pudim, coxinha, empadinha, leite com nescau, café. O que era para ser um café de 5 minutos, transformou-se na minha janta.

Chegamos em São Paulo, o Denis deixou a Paty em sua casa, depois me deixou em casa. Todos vivos, com boas memórias de uma viagem tranqüila, porém engraçada.